quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Etapa 4 Barros ==> Téo (39 kms)


Depois da longa noite anterior e duma discussão onde cada um iria avançar no dia de hoje, estava decidido em avançar até Pádron, cerca de 27 kms de caminho. Na conversa ficou patente que o casal espanhol e a escola de Tondela iriam fazer a mesma etapa. A excepção recaiu sobre os 3 portugueses que desde o início da conversa tinham partilhado a intenção de avançar até Téo. Com este avanço eles garantiam a possibilidade de participar na missa do dia seguinte. Eu gostei da iniciativa, mas sinceramente não acreditava que fosse capaz de avançar tanto.

Hora combinada do acordar com o casal espanhol, 4:30 da manhã. Arrumar a mochila, preparar para arrancar e pelas 5:00 estavamos os 3 à porta do albergue para avançar. Como tinha um ritmo mais forte adiantei-me garantindo que o mais certo era reencontrar-mo-nos em Caldas de Rei para um pequeno-almoço. Assim fazia os primeiros kms ao meu ritmo e teria direito ao meu já inegociável descanso de hora, hora e meia.

Dito feito, por volta das 8:00 estava a entrar em Caldas de Rei, fui ao albergue carimbei e como a fome apertava em exagero, tomei qualquer coisa rápida. Sentei-me ao leito do rio e descansei, por esta altura era alcançado pelo grupo dos 3 portugueses, cumprimenta-mo-nos e eles foram tomar o seu pequeno-almoço. Deitei-me e voltei a descansar, até que subitamente fui acordado pelo estrondo das mesas ao lado, tinha-me desleixado na hora e adormecido por completo. A hora, essa já ia avançada. Esperei mais um pouco e os espanhois não apareciam.


"Se calhar já passaram e eu nem me apercebi!", pensei eu. Arranquei até o próximo destino Pádron, onde iria descansar.

4 kms passados, 8 kms e ia ultrapassando vários grupos de peregrinos, mas em nenhum dos grupos avistava os meus amigos. Entrei pelo montanha russa antes da chegada a Pádron, e o momento alto do dia. Toda a viagem me fiz acompanhar por um cachecol do meu querido S.C.Braga, nisto numa das descidas em que estava motivado, ouço quatro vozes a criticarem-me.

"Olha mais um benfiquista a passar!", eram quatro portuguesas que andavam no mesmo que eu.

Indignado pela afirmação das mesmas respondi: "Benfica não, Braga se faz favor!"

Imediatamente se fez uma festa, eram quatro adeptas fervorosas do Braga, os espanhois e estrangeiros que passavam devem ter visto 5 portugueses a festejar sabe-se lá o que. Talvez uma passagem à fase de grupos :P

As 4 andavam nestas andanças há já 5 dias e o objectivo do dia era chegar a Pádron. Tinhamos jantar combinado. Andava todo babado por ir jantar com 4 portuguesas bem giras e jovens. (*^_^*)

Novo alento e como iamos a ritmos diferentes segui para almoçar ainda em Pádron. StopPoint para registar a minha partida e a minha chegada e aproveitei para descobrir quem iria à minha frente. Os 3 portugueses já lá tinham passado e continuavam com a ambição de Téo,

1
2
3
passagens antes de mim, deveriam estar relativamente perto. Subo a ponte e lá estão eles a um km à frente. Os seguintes kms decidimos fazer em conjunto.



PonteCésures separámo-nos, eles iam almoçar aqui, eu estava disposto a só parar em Pádron, o meu repouso final. Afinal eram só mais 2 kms no máximo até lá.

13:30 estava no destino, surgiram as primeiras dúvidas com mais uns 12/13 kms chegava a Téo, o que ia tornar o último dia bastante suportável. Valeria a pena fazer o último esforço para chegar cedo ao destino?

Prós:
> 13 kms do final
> último dia mais fácil
> ainda ia no dia seguinta para Portugal

Contras:

> ia prolongar este dia
> ia deixar para trâs muitos amigos

Almoçei com calma, sentei-me na avenida principal à sombra e esperei pelos 3 intrépidos se eles continuassem com a ideia de avançar até Téo iria com eles, porque sozinho iria ser demasiado penoso, com a ajuda deles seria bem mais fácil suportar esses 13 kms extra.

19:00 estava a chegar a Téo, a lição de hoje é: "Caminhar bem acompanhado é sempre mais fácil de suportar. Sozinho, pensa-se em muita coisa, muito nos assombra muito nos captiva, mas como pensamentos positivos nos conduzem também temos os pensamentos negativos. Com uma pessoa para falar e partilhar a experiência esses pensamentos não nos atormentam tanto."

Não é que eu esteja arrependido de ter iniciado a viagem sozinho, pelo contrário sinto que terá sido o melhor. Ando ao meu ritmo, faço o planeamento da minha viagem à minha forma peculiar e não tenho de arrastar ou atrasar ninguém.
O melhor de tudo é que nos momentos em que nos fartamos de andar sozinhos, temos sempre alguém ou algum grupo de peregrinos que em poucos minutos aparece. É saltar para o meio e prosseguir até onde nos aguentar-mos. Nestes kms da vida ninguém nos julga, ou abandona, todos nos ajudam.

Se tiverem oportunidade e forem sociáveis, aconselho-vos a todos a partirem nesta viagem pois é das melhores viagens da minha vida.

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